Sociedade em rede e sociedade da informação, eis dois epítetos
comummente utilizados para caracterizar, por um lado, os processos
internacionais de interdependência global – financeira, comercial, etc. –
e, por outro, a comercialização e o fechamento do conhecimento e da
informação. Paralelamente a este processo central na sociedade
contemporânea, encontramos, todavia, um conjunto de movimentos que
propõem a criação de alternativas, entre os quais se destaca o do
software livre.
O software livre pode ser definido como aquele cujo
código-fonte está disponível, sendo possível copiá-lo, modificá-lo e
distribuí-lo sem quaisquer autorizações ou pagamentos adicionais. Ou
seja, qualquer indivíduo na posse dos conhecimentos necessários pode
utilizá-lo e contribuir livremente para o seu desenvolvimento.
O
software livre desenvolve-se em rede, numa ampla e complexa rede que
engloba colectivos e indivíduos isolados que contribuem, a partir das
mais diversas partes do mundo, para a construção colectiva de soluções
informáticas.
Neste sentido, o desenvolvimento do software livre só é possível
porque existe a sociedade em rede, e porque existem infra-estruturas
tecnológicas que permitem ligar os diversos pontos do globo entre si,
tornando possível o estabelecimento de comunicações sincrónicas entre um
e outro ponto do mundo. Por outro lado, o software livre baseia-se numa
alternativa ao fechamento da informação. Resulta de projectos
individuais e colectivos, conjugando no seu seio uma multiplicidade de
projectos e motivações.
O primeiro tipo de projecto associado ao
movimento do software livre prende-se com as possibilidades de inovação e
criação tecnológica facultadas pelo uso das ferramentas de
código-aberto.
O software livre, cujos diversos «membros» elaboram
mais ou menos autonomamente projectos de desenvolvimento, tradução e
adaptação tecnológica, revê-se particularmente na ideia do prazer
criativo. Simultaneamente, a inovação tecnológica surge dotada de
sentidos e significados, incorporando éticas, ideologias e projectos de
mudança.
A utilização de software livre reveste-se de um sentido ético e o
projecto do software livre é também um movimento social, construído em
torno da ideia da liberdade, do acesso e partilha da informação e da
independência face a grandes organizações empresariais de tendência
monopolista e a estratégias comerciais que controlam arbitrariamente as
aplicações informáticas disponíveis no mercado.
Finalmente, o software livre está também a tornar-se parte de uma
realidade empresarial, podendo ser também visto como um projecto
económico.
O software livre surge assim como um movimento que reage a
uma nova morfologia social e a novas lógicas de dominação, e que
constrói alternativas no seio da sociedade em rede, em torno de uma das
suas questões fundamentais: a circulação da informação, demonstrando que
esta rede tem um imenso potencial disruptivo, e que outras informáticas
são possíveis.
Artigo de : INÊS PEREIRA Socióloga
Fim de leitura do artigo
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